Em seu discurso, Jango assinou dois importantes decretos. O primeiro nacionalizava as refinarias de petróleo que ainda não haviam sido incorporadas à Petrobras; o segundo declarava sujeita à desapropriação uma imensa quantidade de terras subutilizadas, atendendo à reivindicação histórica de movimentos sem-terra.
O “Comício da Central”, como ficou conhecido, elevou ainda mais a tensão do cenário político nacional. Setores conservadores da sociedade reagiram de imediato às imagens televisionadas, que exibiam faixas em defesa da legalização do Partido Comunista Brasileiro e da efetivação da reforma agrária.
Em reação a isso, realizou-se a infame “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, iniciada no dia 19 em São Paulo, com cerca de 500 mil pessoas. Enquanto percorria o trajeto entre a Praça da República e a Praça da Sé, entoando gritos de caráter nitidamente fascista, a marcha exigia a saída de Jango da Presidência da República em prol dos “valores cívicos” e do “restabelecimento da ordem”. Ao longo das semanas seguintes, novas marchas ocorreram.
No dia 31 de março daquele ano, enfim, deu-se princípio à maior tragédia já vivida por nossa democracia: o golpe civil-militar que deporia Jango e conduziria o país a 21 anos sangrentos de governos militares, marcados pela intensa e sistemática violação de direitos humanos da população brasileira pelo Estado.
Recordar esse período é retomar o debate das reformas de base propostas por Jango, que até hoje não se efetivaram. Recordar esse período é problematizar a nossa condição política contemporânea, que ainda lida com aspectos ditatoriais. Recordar esse período é reconhecer que a ditadura ainda mostra suas caras: seja na reprodução oligárquica que controla nossos meios de comunicação, seja no sistema político em vigor, seja na estrutura das polícias e em sua atuação nas nossas periferias.
Nesse sentido, o Centro Acadêmico XI de Agosto - GestãoColetivo Contraponto convida todas e todos para o grande ato que será realizado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, no dia 1º de abril, em luto aos 50 anos do golpe.
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