A paralisação dos 87
Na última segunda-feira, em uma Assembleia Geral equivocada e pouco representativa, 87 pessoas decidiram que a Faculdade vai parar novamente por dois dias. O grande problema é que tal quórum desqualifica e deslegitima o processo da AGE enquanto espaço por excelência de deliberação dos estudantes da São Francisco. O que é um pesar para nosso tragicômico processo democrático.
A crítica por uma Assembleia vazia não deve ser direcionada aos estudantes, mas sim ao Movimento Estudantil. O contrário nos levaria a uma perspectiva voluntarista da política e de sua dinâmica — de que as mobilização se dá espontaneamente e sem linha ou condução definidas. Não houve a menor preocupação da atual Gestão do Centro Acadêmico em informar e organizar xs estudantes. Chamada às pressas, não houve passagens nas salas de aula, e tampouco textos informativos sobre a AGE. Xs estudantes pouco ou nada sabiam da Assembleia ou de seu objeto.
Pode-se dizer que não houve celeridade desde o início da AGE. Desse modo, além de se omitir, a atual Diretoria do XI fez uma mesa bastante problemática. Além das inúmeras piadas proferidas por esta ao longo da Assembleia, houve vários momentos em que não havia ninguém para fazer os cadastramentos. Outro crasso erro metodológico é que não constava na pauta da AGE o seu objeto: não estava claro se iríamos discutir uma nova greve, o apoio a esta, ou uma paralisação.
O Contraponto foi o único grupo da Faculdade a verdadeiramente emitir uma posição com uma linha clara sobre as questões que poderiam permear a discussão ali posta. Nos posicionamos acerca do processo de democratização do poder em nossa Universidade, ainda marcada pelos traços autoritários da Ditadura em seu Estatuto. Prestamos solidariedade à greve e à ocupação da Reitoria e problematizamos a trágica situação dxs trabalhadorxs da Faculdade, que ou são tercerizadxs e se veem sem possibilidade de reivindicar os direitos mais básicos, ou são funcionários politicamente perseguidos por pleitear direitos dos terceirizados.
Por parte dos demais coletivos políticos da Faculdade houve somente a oportuna omissão — o que demonstra a pouca preocupação real com o mais importante: massificar a polítca para a Faculdade (e além dela). A preocupação foi seletiva. Se por um lado o Resgate tratou com pouca seriedade, somente o setor do Canto Geral identificado com a linha política do Diretório Central dos Estudantes (DCE) se manifestou. O mesmo DCE que não realiza uma Assembleia Geral na São Francisco há, pelo menos, dois anos.
É importante frisar que greve, paralisação, e piquete são táticas políticas, de caráter meramente instrumental. O que os faz necessários ou não são as condições objetivas que se colocam a partir de uma avaliação acurada da situação concreta. Assim, a melhor tática política seria aquela que não está em contradição com a realidade.
Com efeito, é justamente por que nos comprometemos com o processo de democratizar as instâncias deliberativas da Universidade que não defendemos a tática equivocada e idealista de paralisar a Faculdade. Assim, não podemos recair em cálculos simplistas que gerem resultados precipitados.
Por fim, não houve, nos dois turnos, deliberação concreta relativa à luta das terceirizadas, a pauta mais urgente da Assembleia. Nos perguntamos sobre qual o real comprometimento dos setores que defenderam a paralisação, uma vez que a questão foi escanteada como item de menor relevância à política da Faculdade?
Para que a mobilização de fato ocorra é necessário que haja diálogo com as massas dos estudantes. Sem o genuíno protagonismo destes sempre vamos ter um Movimento Estudantil blindado à participação, refém de práticas que não levam em conta a realidade com a ponderação necessária e que a cada dia se deslegitima mais.
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