quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ressignificando a vadia: pelo direito à autonomia feminina!

"VADIA: pessoa que tem a coragem para viver a vida sob a ideia radical de que sexo deve ser legal, prazeroso e bom para qualquer ser humano"- Marcha das Vadias 2013

Durante o ano de 2011, em janeiro, após várias denúncias a respeito de casos de abuso sexual dentro do ambiente do campus, o oficial Michael Sanguinetti dá uma entrevista para a mídia encarando a problemática da seguinte forma: “Mulheres deveriam evitar se vestir como vadias para que não sejam vitimizadas” (“Women should avoid dressing like sluts in order not to be victimized”).  O absurdo da frase indignou as estudantes que se juntaram e acabaram por levar 3 mil pessoas a protestarem nas ruas, naquele mesmo ano, e denominando-se Slutwalk. O protesto era contra a culpabilização da vítima pela sua vestimenta e não do seu agressor pelo seu ato. A mobilização se espalhou por todo o mundo, e em julho chegava a São Paulo – assim como em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, João Pessoa, Porto Alegre, Campinas, Fortaleza e várias outras cidades do Brasil. Em São Paulo, a mobilização ocorreu para que mulheres marchassem pela rua Augusta reivindicando ser VADIAS.

Contudo, a reivindicação pela palavra Vadia não se dava no mesmo sentido que aquele usado pelo policial de Toronto. A busca pela ressignificação de termos era justamente a de retirar a carga pejorativa dessa palavra. Fazia-se necessária, para aquelas mulheres, uma demonstração de que o machismo se utilizava de um termo para descrevê-las de modo a inferiorizá-las por suas vestimentas e por culpabilizá-las de um crime que somente era tipificado pela caracterização opressora da sociedade: serem mulheres livres.

Há de se ressaltar que a construção social do gênero efetua na sociedade uma divisão sexual do trabalho produtivo e reprodutivo. Este último, não valorizado, invisibilizado e condicionado sempre a delimitar a atuação da mulher somente no espaço privado. A sociedade faz com que a mulher acredite que a sua ocupação só compete a este espaço. O movimento feminista, com suas sucessivas vitórias ao longo do séc. XX, dá às mulheres a possibilidade, até então remota, de ocupar o espaço público. Porém, como não pertencentes “naturais” desse espaço, não conseguem ser vistas enquanto sujeitos destes. Esse processo faz com que a objetificação do corpo das mulheres impregne seus cotidianos com assédios morais e sexuais de todas as formas.

Constantemente assediadas, a maioria das mulheres passa a ter no seu dia a dia situações de vulnerabilidade e incômodo. Situações como andar na rua, utilizar-se do transporte público, trabalhar, ir a festas passam a ser desgastantes psicologicamente e inclusive fisicamente para a maioria das mulheres. E a culpa, muitas vezes quando estas recorrem a ajuda, é posta na sua maneira de se vestir, no comprimento da sua saia, no comportamento sexual... Nunca naqueles que as agridem e as violentam conscientemente.

Dentro de uma lógica de uma cultura do estupro que cada vez mais cresce devido a esse raciocínio de culpabilização da vítima, só no ano de 2012, 12.866 estupros foram registrados pela polícia paulista e a cada dia 2.175 brasileiras telefonam para o 180 denunciando agressões físicas. Daí a intenção do surgimento de um Movimento que defenda a autonomia da mulher sobre o seu próprio corpo e negue sua culpa em relação às violências sexuais, morais e domésticas que sofrem.

Por acreditar que não existem vadias, nem santas, mas sim mulheres com diversas maneiras de expressar sua personalidade e sexualidade, o Coletivo Contraponto convida a todas e todos a participar da Marcha das Vadias de São Paulo, que ocorrerá no dia 25 de maio, sábado, às 14hrs na Praça do Ciclista. Defender a liberdade e autonomia das mulheres na sua afirmação dos sujeitos que desejarem ser é buscar uma sociedade mais igualitária, tolerante e segura para todas e todos. 

Lugar de mulher é onde ela quiser!

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