terça-feira, 14 de maio de 2013

Eduardo Campos: a novidade oposicionista?



Uma das novidades mais comentadas pela grande imprensa na política nacional é a possível candidatura do governador de Pernambuco Eduardo Campos do emergente PSB. Tratado pela mídia como gestor inovador e grande articulador político foi de fiel aliado do governo Dilma a grande aposta da oposição para 2014, mesmo sem ter ainda hoje deixado a base aliada do governo federal. Uma trajetória errante que resume bem a falta de clareza programática da oposição no Brasil.

Lançado na política pelo seu avô, o ex-governador Miguel Arraes, Campos ganhou destaque regional como Secretário da Fazenda na terceira gestão de Arraes (1995-1998) em seu estado. Seu avô era considerada uma importante liderança nacional da esquerda, tendo feito inclusive pioneiramente Reforma Agrária e obras de eletrificação rural em meados da década de 1960. Cassado pela ditadura militar, Arraes foi preso e posteriormente exilado na Argélia. Com a redemocratização, apoiou as candidaturas de Lula em 1989, 1994 e 1998 desde o primeiro turno e em 2002 no segundo turno contra José Serra. Tanto Campos quanto Arraes, nesse sentido,  eram bastante identificados com o campo petista.

Eduardo Campos ganha destaque nacional quando em meio a maior crise de instabilidade política dos governos petistas, a chamada “crise do Mensalão” em 2005, ele depõe como testemunha de defesa do ex-ministro José Dirceu (PT). Tal fidelidade cacifa-o para, no mesmo ano, assumir o Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 2006 é alçado candidato a governador de Pernambuco sob a égide da imagem de seu avô, falecido um ano antes, com apoios que iam de Severino Cavalcanti, folclório ex-presidente da Câmara dos Deputados, ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). No segundo turno, derrota o candidato apoiado pelo hoje aliadíssimo Jarbas Vasconcelos, outrora inimigo ferrenho, graças ao apoio de Lula e do PT (nessas eleições, Lula tinha conquistado mais de 80% dos votos válidos em Pernambuco).

No governo de Pernambuco, Eduardo Campos foi amplamente apoiado por verbas federais e muitas vezes foi a imprensa defender os governos petistas. Pernambuco foi um dos estados que mais recebeu verbas federais, sobretudo para a infra-estrutura e políticas sociais. Em 2010, foi reeleito em primeiro turno com mais de 80% dos votos, associando sua imagem exaustivamente a do então presidente Lula. Como recompensa, consegue emplacar o seu conterrâneo e aliado Fernando Bezerra Coelho como Ministro da Integração Nacional dp governo Dilma.

Com a enorme crise programática da oposição e os desgaste de setores fisiológicos que perderam bastante espaço no governo Dilma (PR, PTB e PDT) por conta de denúncias de corrupção, Campos a partir de 2012 se tornou uma forte alternativa a hegemonia nacional petista. Em primeiro lugar, por ser do Nordeste, região onde a oposição tradicional (PSDB e DEM) tem pouquíssima capilaridade e muita rejeição. Outro elemento de destaque em sua trajetória é que não participou, nem mesmo foi aliado do governo Fernando Henrique Cardoso, amplamente rejeitado pela população brasileira. Por fim, as lideranças nacionais da oposição tradicional demonstram-se bastante desgastadas ou não conseguem efetivamente pautar um discurso político de oposição. José Serra, candidato derrotado em 2002 e 2010, tem altíssimas taxas de rejeição em seu estado natal, São Paulo, e recentemente perdeu as eleições municipais na maior cidade do país para o estreante Fernando Haddad. Aécio Neves é um senador bastante apático e inexpressivo, sua postura incomoda fortemente setores do próprio PSDB.

A legenda de Eduardo Campos, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), do qual, inclusive, é presidente nacional, apesar do nome, não se difere da grande maioria dos partidos tradicionais. Não possui hoje mais nenhum viés programático de esquerda. Em 2010, o candidato do partido ao governo de Sâo Paulo foi, por exemplo, Paulo Skaff, empresário presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Dada a natureza fisiológica do PSB, Campos em 2012 passou a fazer alianças com setores oposicionistas e rodar o Brasil nas campanhas municipais. Para se fazer conhecido, em São Paulo subiu no palanque com Geraldo Alckimin na cidade de Campinas e em Minas Geraes esteve com Aécio Neves nas eleições em Belo Horizonte. Rompeu com o PT em várias cidades, sobretudo na região do Nordeste. Em Recife, lançou um ex-secretário com apoio do senador oposicionista Jarbas Vasconcelos. 

A partir desse ano, Campos subiu o tom dos ataques ao governo Dilma. Criticou as isenções fiscais dada a indústria automobilística e o financiamento da saúde, sem, contudo, ter feito nenhuma proposta concreta alternativa. Reuniu-se com uma série de lideranças de partidos de oposição e empresários. Algumas delas, como José Serra (PSDB), Agripino Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS), já demonstram publicamente simpatia a Eduardo. Como Campos vai responder por ter apoiado durante mais de 10 anos as administrações petistas num momento em que elas tem altas taxas de aprovação? Isso contraditoriamente parece não ser um fato importante.

O que se percebe nesse caso é que tanto ele, quanto os outros pré-candidato de oposição (Aécio e Marina Silva), se apresentam apenas como nomes e não como plataformas programáticas. Questões como educação, saúde, política de desenvolvimento e relações internacionais simplesmente são ignoradas. O que se vê é que os setores efetivamente descontentes com o governo Dilma como grandes bancos e setores estrangeiros interessados na privatização do setor petrolífero se utilizam dos nomes colocados de forma velada, sem publicizar suas reais intenções. É como se as candidaturas fossem apenas táticas, meros instrumentos de uma política que não se coloca publicamente. Nesse sentido, o que a oposição busca é despolitizar as eleições presidenciais, colocando seus candidatos como se fosse uma concorrência entre nomes mais ou menos palatáveis ao grande público. ¡C! 

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