terça-feira, 9 de abril de 2013

A contraditória Rede de Marina Silva

Uma das principais novidades recentes da agenda política brasileira foi o surgimento do novopartidoda ex-Ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Lançado há duas semanas num hotel de luxo em Brasília, ganhou bastante cobertura da imprensa nacional. Nomes como Walter Feldman (deputado federal do PSDB- SP), Ricardo Young (vereador no município de São Paulo), Guilherme Leal (empresário dono da Natura) e Heloísa Helena (candidata a presidência da República em 2006 pelo PSOL) foram algumas das presenças de maior destaque e deverão se fliar assim que a nova legenda conseguir seu registro ofcial. A Rede Sustentabilidade, ou apenas Rede, surge com um discurso de que efetivamente representa uma “novidade” e que é uma alternativa pra superar “a bipolaridade de partidos políticos já desgastados”. Anteriormente, Marina chegoua declarar que seu partido seria “sonhástico”, em antagonismo com o tradicional pragmatismo reinante na política nacional. Uma análise um pouco mais minuciosa, entretanto, nos revela a fragilidade e a incoerência desse discurso salvacionista.

Em primeiro plano, a legenda é comumente tratada como “partido da Marina”. Isso conota a sua associação direta com uma liderança política individual, e não com uma plataforma programática ou com setores da sociedade civil organizada. Ressalta-se, também, o fato de sua origem se relacionar diretamente como projeto dessa liderança de se candidatar à presidência da República em 2014, ou seja, nasce de uma ambição eleitoralista e de forma completamente verticalizada. Essas
são as primeiras (de muitas) semelhanças com os partidos tradicionais.

Os nomes apresentados também são bastante heterogêneos. Em São Paulo, a grande fgura é o deputado Feldman, outrora grande aliado de José Serra e Gilberto Kassab, dos quais foi secretário na prefeitura de São Paulo. Ele, além de tucano histórico, foi líder do governo Mário Covas durante todo
o processo de privatização de estradas e empresas públicas. Um neoliberal convicto. Nas Alagoas, por sua vez, chama a atenção a presença de Heloísa Helena, candidata em 2006 a presidência pelo PSOL em aliança com o PSTU. Heloísa, ainda que ferrenha opositora do aborto (posição compartilhada por Marina), se diz uma “socialista radical” em sua própria defnição. Declarou na próprio lançamento que “luta contra o capital” (sic). O que a une a Walter Feldman? Apenas o fato de estarem isolados em seus partidos atuais. Ou seja, são fliações relacionadas a anseios meramente individuais: o que há de novo nisso?

Marina Silva, num pronunciamento que muito lembrou Gilberto Kassab ao defnir
o também neófto PSD, declarou não ser “nem situação, nem oposição, mas sempre com posição”. A frase confusa só confrma seu enorme vazio programático.Ela não se posionou sobre temas fundamentais como economia, política social, relações internacionais, saúde ou educação. Fez, contudo, críticas etéreas ao “modelo desenvolvimentista” do governo Dilma Rousseff que seria, segundo ela, ambientalmente agressivo, mas sem sustentar nenhuma proposta alternativa. Interessante é que os setores mais poluentes e devastadores como o agronegócio ou a mineração nunca são nem mesmo citados pelos discursos marineiros.

Numa das raras posições efetivamente defendidas pela pré-candidata, o que se viu foi um enorme conservadorismo. Marina Silva defendeu um plebiscito para aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ou seja os direitos de uma minoria historicamente oprimida têm que ser referendados por uma maioria. Tal concepção cruel é a mesma compartilhada pelo pastor homofóbico Silas Malafaia (que em 2010 chegou a declarar apoio à Marina em sua primeira candidatura a presidência).

O partido em seu estatuto restringe doação de campanhas de determinados setores econômicos (o que não inclui nem bancos, nem empreiteiras), mas não defende o fnanciamento público. Em relação às fnanças partidárias, chama atenção que a fgura responsável para arrecadação do partido seja ninguém menos que Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú. Vale ressaltar que a empresa
perdeu fatias signifcativas do mercado por conta da redução das tarifas de juros dos bancos públicos no governo Dilma.

Como se percebe, a Rede Sustentabilidade não possui grandes diferenças dos partidos da velha política. Ele tem sido tão festeja pela grande imprensa por se tratar de uma tentativa de atrair setores que não se alinham com a oposição tradicional (PSDB e DEM) para o campo conservador. Agrega-se a essa conjuntura a pífa atuação de quadros políticos antes tidos como protagonistas. O inerte senador Aécio Neves, alçado como maior fgura pública nacional do partido de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, tem mais destaque nas colunas sociais da noite carioca do que nos enfrentamentos com o governo. Já Marina teve 20 milhões de votos em 2010, além de ter marcante apelo em setores identifcados como o governo do PT (jovens e evangélicos da classe C e D). Sua candidatura é, assim, fundamental para que ocorra segundo turno em 2014, ainda mais num momento em que o governo Dilma possui aprovação de quase 80% da população. ¡C!

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